“Ipiaú tem sido verdadeiramente a cidade do desenvolvimento?”

O arquiteto e urbanista Elson Andrade avalia o tema, em entrevista para a 2D

Elson Andrade é arquiteto, urbanista, empresário e pós graduado do Instituto de Economia da Unicamp

Ipiaú está mesmo passando por um momento de desenvolvimento econômico?

Elson Andrade: Em primeiro lugar, devemos destacar que a prefeitura de Ipiaú deverá fechar o período de 2017 a 2024, com gastos acumulados em “publicidade”, da ordem de R$ 4,5 milhões, isso sem considerar a atualização da inflação no período. Modus Operandi praticado por uma única vencedora-operadora do “certame”, na modalidade de dispensa de licitação! Ou seja, tudo indica que foi escolhida a dedo, a empresa que vem fazendo a distribuição desses recursos aos radialistas e blogueiros da cidade.

Outro ponto a ser observado, quero aqui logo ressaltar o lado técnico da análise comparativa, é a diferença entre crescimento e desenvolvimento econômico; os quais, não se confundem!

Imagine que Ipiaú fosse uma ilha e que vivêssemos na era em que ainda não existisse o dinheiro, como meio de troca econômico-comercial. Nessa condição de escambo, fica fácil imaginar que para Ipiaú conseguir consumir automóvel, precisaria por exemplo, produzir em igual quantidade de valor pecuniário, amêndoas de cacau.

No entanto, o PIB de Ipiaú tem sim crescido, (embora, muito abaixo da média nacional) porém, essa renda não tem sido, predominantemente salutar, fruto do suor derramado pelo rosto de muitos indivíduos do nosso povo, mas sim, por um alto grau de transferências de recursos federais, altamente viciante, dependentes, e que no fundo, tem tido caráter de “esmola” em viés flagrantemente, político-partidário-eleitoral.

Segundo dados do próprio governo federal, somente no primeiro semestre de 2024, Ipiaú já recebeu:

Transferências do governo federal aos cidadãos de Ipiaú-BA

• R$ 40,26 milhões em Bolsa Família;
• R$ 31,91 milhões em Benefício de Prestação Continuada BPC-INSS;
• R$ 767,55 mil em Auxílio Gás;
• R$ 5,96 milhões em Seguro-Desemprego;
• R$ 69,13 milhões em Benefícios Previdenciários INSS (muito poucos por tempo de contribuição – maioria por afastamentos, deficiência física e por idade;

Transferências para a prefeitura do município de Ipiaú-BA

• R$ 58,36 milhões transferido para a prefeitura do município.

Dado que o PIB (Produto Interno Bruto) de Ipiaú está atualmente em cerca de R$ 620 milhões por ano. Logo, as transferência acima elencadas, representam cerca de 1/3 do nosso PIB anual, as quais nos vem “de presente” do governo federal. E ainda, o orçamento público municipal, anual (LOA) é depende ¾ de recursos tem origem em transferências da repartição tributárias da União, via Pacto Federativo, o qual tira recursos dos municípios mais ricos/produtivos, para transferir aos municípios mais pobres.

O que produzimos localmente, predominantemente, cacau e beneficiamento de poupa de frutas, juntas, respondem por cerca de apenas 8% do PIB local.

Ou seja, estamos nos transformando muna economia rebocada financeiramente pelo governo federal/Pacto Federativo, que está nos “aliciando” eleitoralmente, alugando o intestino e a mente do nosso povo desempregado, e já sem esperança de desenvolvimento real local.

E as consequências deste grau de dependência financeira?

Dado que há programas do governo federal que tem pago em dobro o valor do benefício/auxílio, para as mulheres mães em situação de arrimo de família. Veja abaixo o graus de divórcio praticado atualmente na cidade de Ipiaú, desde 2017, e a infeliz coincidência com os pagamentos a maior as mães “solteiras”.

Como diria meu pai, Ipiaú tem crescido como rabo de cavalo: - Creeeesce, porém para baixo. Ipiaú, a cidade do 10 envolvimento. É envolvimento pra todo lado.

Como o senhor avalia a dita vantagem à cidade de Ipiaú em ter uma prefeita amiga de um ex-governador, ministro?

As transferências federais, acima citadas, componentes do orçamento municipal anual... INDEPENDEM da vontade, preferência, inferência, deste ou daquele membro do governo. Pois, trata-se maciçamente, de repasses de recursos tributários constitucionais. Sendo que as transferências estaduais, no caso de Ipiaú, respondem por cerca de apenas 12% da LOA. Que aliás, tudo que o governo estadual arrecada em Ipiaú, de ICMS, IPVA, ITCMD, etc., são somas maiores que as transferidas, devolvidas à prefeitura local. E ainda assim, estão sujeitas a obrigações de Estado e não de governo.

Na condição de filho da terra e como urbanista desenvolvimentista, o senhor acredita que no apagar das luzes do atual governo esse grupo político, consiga ainda dar algum passo importante na conquista dos Arcos Rodoviários (desvio da BR-330 e BA-650)?

Para quem passou 8 anos inutilmente, esperando por alguma ação concreta nesse sentido, sem ter qualquer efetividade... Agora as vésperas das eleições, virem tirar foto com funcionário qualquer do DNIT e postar nas redes socias, em flagrante falso testemunho-marketeiro, prometendo rapidamente construir essa importante obra reestruturante da malha urbana e do transito de Ipiaú? Nem os presos, vão acreditar nessa peça teatral eleitoreira.

O grupo político do atual governo diz que Ipiaú virou um verdadeiro canteiro de obras, seus números e analise confirmam esta versão da realidade vivida por Ipiaú hoje?

Só se for no sentido de que um canteiro de obras, normalmente é lugar mal arrumado, improvisado, precário, sujo, coberto com Eternit, sem esgoto... Onde tudo está por se fazer.

Façam suas próprias contas: Se o percentual de investimento direto do governo federal (que é quem arrecada 2/3 da carga tributária nacional, aplicados diretamente na rubrica INVESTIMENTO DISCRICIONÁRIO, beira a apenas 1% do PIB nacional... Imagine a “pobre” prefeitura de Ipiaú?

Logo, isso não fazem nem cócegas no real desenvolvimento. Trata-se de invencionice de marketeiro do interior metido a criativo em ato de desconsideração da inteligência do povo local. São uns Abusados de aluguel!

Qual sua avaliação do atual governo municipal de Ipiaú?

Em primeiro lugar, um governo não é atribuído a ação e/ou omissão de uma única pessoa.

Em muitas cidades, um(a) prefeito(a) não passa de boneco(a) de ventriloquia. Trata-se portanto, de um grupo e seus subgrupos de poder e ação. E no caso em tela, atenção se deve à inferência de supostos(as) fantasmas soteropolitanos(as) em exercício; se legal, porém, imoral, em decisões e preferências administrativas.

Em suma, foram ao meu ver, oito anos da nossa história econômica, perdidos, parados no tempo, com o agravante do decrescimento de - 8,51% da nossa população, que foi embora, (segundoCenso IBGE 2010/2022).

Em 2005 tínhamos quase 10 mil matrículas na rede municipal de Ipiaú, hoje, temos cerca de 5 mil.

Durante todo esse precioso tempo, gastamos cerca de 54% das nossas receitas - pública municipal - só com despesa de pessoal.

O quadro de servidores com Vínculos Empregatícios na Prefeitura de Ipiaú em julho de 2024, atingiu o recorde de 1484, pendurados na Folha de Pagamento da prefeitura. Os cargos de governo, atingiram 45% (sem concurso público), quando e onde, não se sabe dizer exatamente: o que essas enxurrada de assessores, diretores, estagiários, etc. realmente “produzem” de fato.

No gráfico acima, percebe-se que há uma forte quantidade de novas contratações a partir de dez-22, e, nos anos de 2023-24, verifica-se uma super concentração de novas contratações, com a linha de tendência mostrando, ao longo do tempo, um aumento expressivo das contratações, com salários menores, em quantidade cada vez maiores. Ou seja, nos anos de 2023 até agora, a quantidade de novas contratações, bateram o recorde de 715 novas contratações. Só de janeiro a julho de 2024, já somam 390.

Se todos comparecessem a sede da prefeitura ao mesmo tempo, não devem caber no prédio.

Sabe-se que cerca de R$ 8,5 milhões de gastos totais, foram com festas populares em 2024.

Em resumo, a feroz disputa por cargos públicos municipais, em Ipiaú, tem virado um lugar de disputa de godelas, apoiadores interesseiros-beneficiários de “esmolas”, dum governo que terá “gerido” R$ 1,2 bilhões de 01/01/2017 a 31/12/2024 (se atualizados pelo IPCA), sem ter entregue resultado proporcional ao volume de recursos públicos gastos no período.

No tocante a geração de emprego e renda locais, na iniciativa privada, estamos no patamar dos 1/4 da renda média per capta nacional. Ou seja, este tipo de política de Pão e Circo, está nos empobrecendo, quando e onde, mais R$ 1,5 bilhões em renda local, estão se deixando de serem gerados, a cada ano, se comparado ao patamar da Renda Média Per Capta Nacional.

Segundo levantamentos do IBGE, em Ipiaú, o índice de pessoas ocupadas economicamente, desceu ao nível de apenas 17,3%, e o percentual da população com rendimento nominal mensal per capita de até 1/2 salário mínimo, manteve-se em torno de 45,7%.

Em 2021, o PIB per capita era de R$ 12.373,92. Na comparação com outros municípios do estado, aparece nas posições 183 de 417 entre os municípios do estado e na 4293 de 5570 entre todos os municípios. Já o percentual de receitas públicas de origem externa, em 2023, era de 84,22%, o que o colocava na posição 346 de 417 entre os municípios do estado e na 3167 de 5570. Em 2023, o total de receitas realizadas foi de R$ 177,5 milhões e o total de despesas empenhadas foi de R$ 168,5 milhões. Isso deixa o município nas posições 67 e 69 de 417 entre os municípios do estado e na 997 e 1004 de 5570 entre todos os municípios. Índices, piores que cidade localizadas no polígono da seca nordestina.

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