"O que podemos fazer para te resgatar?", questiona a pedagoga e professora aposentada das redes municipal e estadual, em artigo para a 2D
Uma cidade amada chamada Ipiaú
Georgelita Bacelar é pedagoga graduada pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e pós-graduada, Gestão Escolar pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), professora aposentada das redes municipal estadual de ensino de Ipiaú
Não me refiro a um tempo muito distante, pois muitos aqui hão de concordar comigo.
Entrei no túnel do tempo fazendo uma retrospectiva dos rumos que tomou nossa cidade e fiquei pensando: como as coisas mudaram por aqui!
Lembro dos políticos da nossa infância e adolescência. Eram filhos da terra ou pessoas que aqui chegaram para trabalhar ou atuar como profissionais da saúde, agricultura , educação ou comerciantes escolhidos dentre as pessoas de bem que a população julgava ter perfil de liderança e que expressavam amor e carisma pela cidade e pelas pessoas que aqui viviam.
Geralmente eram amigos ou conhecidos de nossos avós, de nossos pais, indicados pelos amigos em uma roda de conversa ou em reuniões com os comerciantes e demais pessoas de visibilidade.
Era uma disputa gostosa, as famílias geralmente eram amigas umas das outras.
A exemplo dessa época, podemos citar Dr. Salvador da Matta, Capitão Milton Pinheiro, Edvaldo Santiago, Zequinha Borges, Hildebrando Nunes, José Motta Fernandes, Ubirajara Costa, Miguel Coutinho, Adilson Duarte…
Pessoas que podíamos encontrar na rua, bater no ombro e dizer: eu sou filho(a) de fulano(a).
Quando terminava a campanha, todos iam contar as peripécias da campanha e dar risada das brincadeiras e resenhas. A preocupação era a de manter a ordem e a paz na cidade, bem como a de emprego e renda para a população carente.
Bem verdade que naquela época as dificuldades eram maiores por não ter programas assistências com auxílios e benefícios, nem programas educacionais com verba federal, como se tem atualmente.
Não quero ser saudosista, fico feliz por nossa cidade ter progredido, com ruas calçadas, professores graduados e capacitados, postos de saúde e escolas equipados, praças públicas…
Mas quando vejo à frente das decisões da nossa cidade natal, de questões que dizem respeito às nossas vidas e de nossos amigos, tanta gente que não conhecemos, que nunca ouvimos falar, que não nos reconhecem na rua, que não podemos dar um abraço afetuoso, fico pensando que rumo tomou nossa cidade. Tão estranho!
Parece até que nós que somos forasteiros ou impostores, invasores, sei lá!
Todos com medo de expor suas ideias, de defender seus ideais, de opinar, de criar, de postar um texto… de viver!
Quem são essas pessoas?
Quem são seus pais?
De onde vieram?
Quem foram seus professores?
Quais lugares frequentam?
Em qual mercado, padaria, lojas e bares compram seus produtos e utensílios pessoais?
Quem são seus amigos, sua manicure, o que pensam, o que fazem, do que gostam e o que vieram buscar aqui? Alguém sabe responder?
Um dia tiram nossos empregos, nossos salários, nossa alegria e sem muito tardar, tiram nossa dignidade.
Sinto muito. minha Ipiaú. Continuarei te amando. mas como você mudou!
O que podemos fazer para te resgatar?