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608 CASOS: Itabuna fecha o cerco, mas não barra o vírus

“Nesta terça-feira (19/05), Itabuna registrou 608 casos confirmados; 2.669 casos notificados; 1.387 em monitoramento; 1.744 descartados; 284 aguardando resultado; 161 casos curados; 380 aguardando coleta; 10 internados em UTI; 25 internados em leito clínico e 22 óbitos”,  descreve o boletim do Serviço de Vigilância Epidemiológica da Prefeitura Municipal de Itabuna, principal cidade do Sul da Bahia, que figura no topo do indesejável ranking dos casos de contaminação pelo coronavírus, entre os munícipios do interior da Bahia.

A cidade vem tentando conter o avanço com medidas duras. Determinou o fechamento do trânsito de veículos nas avenidas Beira-Rio e Princesa Isabel (a partir do 2º semáforo até a rua do Paty). Na Avenida Cinquentenário, o trânsito permanece interrompido. Outra medida adotada pelo município, foi à instalação de barreiras de fiscalização, que estabelece limites à locomoção de pessoas.  As barreiras foram montadas nos bairros Califórnia/Fátima, São Caetano, Mangabinha, Conceição e Santo Antônio.

Ela ainda criou um sistema de cadastramento para os veículos automotores que atuam nos serviços operados pelo sistema delivery. Cada empresa poderá cadastrar apenas um veículo.

Robson Nascimento faleceu nesta terça-feira, 19 de maio, vítima da COVID-19. Robson era bacharel em Direito, e foi diretor comercial do Jornal Agora, da cidade de Itabuna

“A Prefeitura determina o confinamento domiciliar obrigatório em todo território do Município de Itabuna das 20h00 até às 05h00 horas do dia seguinte, sendo proibidas a circulação e a permanência de pessoas nos parques, praças públicas municipais, ruas e logradouros”, diz a outorga assinada pelo prefeito Fernando Gomes, neste último dia 12 de maio, quando a cidade somava 393 casos de infecção pelo Covid-19.

Prefeito de Itabuna, Fernando Gomes (de azul), no Hospital de Base: unidade pode ter sido o epicentro

Juvenal Maynart
Mas o ipiauense Juvenal Maynart pode ter profetizado o drama que Itabuna vive hoje. Ele foi diretor do Hospital de Base de Itabuna até 31 de março deste ano, quando dirigiu uma carta ao prefeito Fernando Gomes, anunciando seu desligamento da instituição.

Juvenal Maynart, ex-diretor do Hospital de Base: profeta?

Profética porque alertou: O Hospital de Base, senhor Prefeito, passaria à condição de Referência em atendimento a 800 mil potenciais pacientes da microrregião de Ilhéus e Itabuna. Essa mudança, lastreada nos ofícios do Governo do Estado (nº 258, da Sesab), e do próprio Município (nº 124/2020/SMS), que seguem anexos, se constituiu na esperança de um atendimento mais eficaz, porque direcionado a um só fim.  Também seria mais seguro para a comunidade em geral, visto que já não iriam ser misturados pacientes que procurassem nossa unidade por outros motivos, aos que estivessem tratando da Covid-19, dado o alto risco de contágio. Evitaríamos que um paciente entrasse com o tornozelo quebrado saísse num caixão, vítima do coronavírus, numa infecção cruzada, sem direito a velório”, ponderou Juvenal Maynart Cunha.

A carta foi tornada pública no portal IPolítica de Rick Mascarenhas, como você pode ver clicando aqui. À época, a cidade somava modestos e controláveis quatro casos confirmados de Covid-19.

Hoje, a principal cidade do Sul da Bahia desponta como portadora de um dos cenários mais preocupantes, no país, de disseminação do novo coronavírus. A curva de crescimento é ascendente e progressiva.

Assista: Agora, Rui Costa decide tornar o Hospital de Base exclusivo Covid-19

Quando ao termo “pode ter profetizado”, do título desta matéria, o bom interprete haverá de entender que é uma sentença em aberto, para reflexão e livre conclusão do leitor da Rede 2D.

Veja a íntegra da carta de Juvenal Maynart:

Ao Prefeito Sr. Fernando Gomes de Oliveira
C.C Secretária de Governo Maria Alice Pereira


Eu, Juvenal Maynart Cunha, brasileiro, venho pelo presente formalizar à Vossa Excelência meu pedido de exoneração do cargo em comissão de DIRETOR PRESIDENTE da Fundação de Atenção a Saúde de Itabuna – FASI, que exerço em razão de nomeação pelo Decreto de nº 13.396, com data de 02 de setembro de 2019.

Sinto-me na obrigação de formalizar tal pedido por entender que a minha contribuição ao Governo e à Saúde do município já não se faz necessária, especialmente por ter, no dia de ontem (segunda-feira, 30.03), observado uma mudança de rumo muito perigosa no que se refere à condução das ações de enfrentamento ao flagelo do Coronavírus (Covid-19) no município e na região.

O Hospital de Base, senhor Prefeito, passaria à condição de Referência em atendimento a 800 mil potenciais pacientes da microrregião de Ilhéus e Itabuna. Essa mudança, lastreada nos ofícios do Governo do Estado (nº 258, da Sesab), e do próprio Município (nº 124/2020/SMS), que seguem anexos, se constituiu na esperança de um atendimento mais eficaz, porque direcionado a um só fim.

Também seria mais seguro para a comunidade em geral, visto que já não iriam ser misturados pacientes que procurassem nossa unidade por outros motivos, aos que estivessem tratando da Covid-19, dado o alto risco de contágio. Evitaríamos que um paciente entrasse com o tornozelo quebrado saísse num caixão, vítima do coronavírus, numa infecção cruzada, sem direito a velório.

Sendo uma unidade de atendimento exclusivo, teríamos aporte (habilitação) de 31 leitos de UTI, que se somariam aos nossos 9 leitos já habilitados, o que iria perfazer um total de 40 desses leitos. Como uma ação local, preparamos espaço para uma eventual expansão, com capacidade para mais 90 leitos, prontos para receber respiradores.
Esses, caso necessário, se somariam aos 60 leitos anunciados pelo Governo do Estado, perfazendo 150 leitos clínicos, todos equipados com respiradores. Todos esses leitos, habilitados, fariam de nosso Hospital de Base uma verdadeira referência – aí no sentido de importância – estadual, quiçá nacional, no tratamento desses agravos.
Não é demais lembrar que estaríamos preparados para atendimento exclusivo para os casos de infecção pelo novo Coronavírus (Covid-19) já a partir da sexta-feira (03.04), com os nossos 9 leitos de UTI, que já estão habilitados, e na segunda-feira (6), com os 60 leitos clínicos, além dos 31 novos leitos de UTI, desde que chegassem os equipamentos anunciados pelo secretário estadual da Saúde, Fábio Vilas-Boas.

Seríamos, sem dúvidas, um dos hospitais mais bem equipados do interior baiano, podendo, a depender da habilidade política do futuro gestor, reter para seu patrimônio todos esses equipamentos, superada a pandemia.

Finalmente, alerto à gestão que, voltar a ser portas abertas a cerca de 160 municípios, recebendo variados tipos de pacientes, muitos desses certamente já infectados pelo coronavírus, se constitui uma temeridade do ponto de vista do enfrentamento a uma praga tão virulenta, que não respeita fronteiras, gênero, idade ou condição social. Temo que muitas vidas podem ser perdidas.

Deixo, porém, muito claro, que essa saída em nada abala meus sentimentos de amizade pessoal e admiração pelo político. Espero ter correspondido às expectativas da gestão, enquanto pude continuar no cargo.

Senhor prefeito, sabemos que é difícil chegar a esse cargo tão relevante e humanista. Sábio, porém, é saber a hora de sair.

Itabuna, 31 de março de 2020
Juvenal Maynart Cunha

Rede 2D – Redação

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