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Em Ipiaú, mutirão da Defensoria buscou quantificar danos das enchentes e fez 233 atendimentos

Moradores e comerciantes levaram provas para que a Defensoria possa pedir, em juízo, a reparação dos danos causados pela enchente

Desde antes de o pequeno Igor* nascer, a dona de casa Caliandra Silva Brito, 23 anos, sempre disse que seria uma mãe-leoa e protegeria seu filho de qualquer perigo. O que ela não sabia era que esse instinto de proteção ia falar mais alto em apenas 10 dias após o parto, quando teve que sair de casa com o bebê nos braços em meio à enchente que atingiu a cidade de Ipiaú.

“Foi desesperador! Não larguei ele por nada e consegui sair de dentro de casa, no meio daquela água toda, com a ajuda dos vizinhos. O esforço foi tanto que os pontos da cesárea que fiz abriram e, até hoje, um deles tá inflamado”, revelou Caliandra.

Depois de três dias em Jequié, o mutirão realizado pela Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA para quantificar os danos dos moradores e comerciantes atingidos pela enchente chegou na sexta-feira, 3, à cidade de Ipiaú e levou 233 pessoas à Praça Alberto Pinto, onde a Unidade Móvel de Atendimento – UMA da Instituição ficou estacionada e também foram utilizadas as dependências da Câmara Municipal.

Um dos primeiros a chegar, o vendedor Eduardo Santos Lima, 42 anos, conta que estava assistindo a uma reportagem na TV sobre a enchente em Jequié, que fica a 55 quilômetros de distância, quando percebeu que o nível da água na galeria pluvial também estava aumentando e, por precaução, começou a tirar alguns móveis do chão.

“Suspendi alguns móveis, mas na hora em que a água começou a subir rápido, tomou a rua e entrou dentro de casa não deu tempo de mais nada, só de correr com minha família. Perdi geladeira, sofá, cama, guarda-roupa e o berço da minha filha, que ficou tão traumatizada que, até hoje, chora quando vê a casa ainda cheia de lama”  contou o vendedor, que voltou no dia seguinte à enchente para resgatar o mascote da família [cachorro Lupi] e lá estava ele em cima de tábuas tentando se proteger.

Já a dona de casa Lecy Jesus da Cruz, 70 anos, ficou ainda mais desesperada por não conseguir correr. “Eu, que não tenho mais tanta força nas pernas, quase fui levada por aquela água toda”, contou ela, que tem dificuldade de locomoção, utiliza muletas após uma cirurgia no coração e foi carregada pelos vizinhos.

Se o mutirão era para quantificar os danos, a dona de casa Gilmara de Jesus Cardoso, 28 anos, resolveu escrever tudo que perdeu em uma folha de caderno e calculou o valor exato de quanto custou cada um dos móveis, eletroeletrônicos e eletrodomésticos.

“Anotei tudo para não esquecer”, contou ela, enquanto citava cada item da lista. Já a também dona de casa Isabel de Jesus Gomes contou nos dedos tudo que perdeu: guarda-roupa, armário, liquidificador, aparelho de som, cômoda, geladeira, fogão e rack.

Por falar em valor, a dona de casa Caliandra Brito, citada no início desta reportagem, lembra que dividiu o guarda-roupa em 12x e só pagou quatro parcelas.

“É muito doloroso ver as coisas que suei tanto para ter perdidas assim. Nem terminei de pagar o guarda-roupa e perdi também geladeira, TV, armário, cama, sofá, o berço e todo o enxoval do bebê”, contou.

A aposentada Hilda Dias dos Santos, 79 anos, perdeu tudo que tinha em casa e saiu com a roupa do corpo. “Saí com essa roupa aqui e recebi a doação de dois vestidos que uso dia sim e dia não”, revelou ela, que, com a perda do fogão, alimenta-se das refeições enviadas diariamente pela neta.

“Vamos buscar a reparação”
A dinâmica de atendimento no mutirão foi a mesma que a 12ª Regional da Defensoria, da qual a unidade de Ipiaú está vinculada, organizou em Jequié: as estações de atendimento foram divididas em três – triagem, aplicação do questionário e digitalização dos documentos e das provas, como fotografias e notas fiscais.

“Através desta força-tarefa, a Defensoria está fazendo tudo que está ao seu alcance para levar este pedido de indenização em juízo”, reforçou a defensora pública Maíra Miranda Fattorelli, que atua em Ipiaú.

“Vamos buscar a reparação, que é o que essas pessoas efetivamente esperam e têm todo o direito”, acrescentou o defensor público Luiz Carlos Azevedo dos Santos, que também atua em Ipiaú.

Além dos dois defensores que atuam em Ipiaú, o mutirão da DPE/BA na cidade contou com a atuação da coordenadora da 12ª Regional, Yana de Araújo Melo, dos defensores Ethiene Vanila de Souza Wenceslau, Bibiana Gava Toscano de Oliveira, Maria Carmen Albuquerque Novaes, Scheilla Daniela Almeida Nascimento, Gabriel Salgado Lacerda Medeiros e José Carlos Teixeira, dos servidores e estagiários de Ipiaú, Jequié e Salvador.

A força-tarefa também teve a participação da  Defensoria Pública da União – DPU e da equipe do Centro de Referência da Assistência Social – CRAS.

* Nome fictício para preservar a identidade

Por Ingrid Carmo
DRT/BA 2499
Cecom – DPE-BA

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