Como é comum na política, a ocasião mudou a convicção
Não faz muito tempo, 27 de fevereiro deste 2022, o governador Rui Costa (PT) foi às redes sociais e, bem afetuosamente, com foto ilustrativa, declarou: "Hoje é dia de parabenizar João Leão, o Bonitão da Bahia! Feliz aniversário a esse grande amigo e parceiro de correria e trabalho para trazer mais desenvolvimento para a Bahia e os baianos. Que Deus te abençoe, derramando bênçãos de saúde, energia e muitos anos de vida. Receba meu abraço!".
Assim reagiu Rui ao natalício de quem, em 1º de janeiro, completará oito anos como seu vice-governador.
Bastaram 20 dias para mão que afaga ser a mesma que apedreja, como versaria o poeta pré-modernista Augusto Anjos e vociferou o petista: "E ninguém, a pretexto nenhum, pode colocar a faca no meu pescoço e dizer que eu abra mão deste mandato", acusou.
A ocasião mudou a convicção e, na velocidade da luz, o companheiro de tantas jornadas e lutas, metamorfoseou-se para autor de uma coação e quis arrancar o governador da cadeira para sentar no seu lugar.
Tudo começou após o rompimento do PP com a base do PT na Bahia. Desde então, o governador Rui Costa subiu o tom. Nesta terça-feira, 15, durante um discurso realizado na cidade de Almadina, no sul do estado, onde cumpria agenda, o petista disse que não aceita pressão para renunciar ao cargo.
Coincidentemente, um dia antes, o vice-governador João Leão, ex-secretário do Planejamento, além de Nelson Leal e Leonardo Góes, até então titulares nas pastas de Desenvolvimento Econômico e Infraestrutura Hídrica, respectivamente, entregaram seus cargos ocupado no Governo petista.
Na política, casamento desfeito, a transição do amor ao ódio é automática. Agora, já não se pode convidar para o mesmo jantar o governador e seu vice.
Reação de Leão
Mas o vice-governador João Leão (PP) disse nesta quarta-feira, 16, em entrevista à Rádio Sociedade, que jamais pressionou o governador Rui Costa (PT) a deixar o mandato. “Eu nunca botei a faca no pescoço do governador Rui Costa. Em sete anos de convivência, nunca coloquei”.
O termo “colocar faca no pescoço” foi usado por Rui Costa ao se referir ao que ele chamou de pressão para que Leão governasse nos últimos nove meses do mandato, o que fazia parte de um acordo, que envolvia também a pré-candidatura de Rui ao Senado e a pré-candidatura de Otto Alencar (PSD) ao Governo do Estado.
“Se [o que Rui Costa falou] foi pra mim, não pegou. Quem colocou faca no pescoço foi Jaques Wagner (PT), que disse a Rui que ele não era candidato a senador”, rebateu Leão.
O vice-governador disse, novamente na entrevista, o motivo do rompimento com a base aliada de Rui Costa. “Acordo é acordo. Wagner validou. O governador e eu fomos até São Paulo, em reunião com o ex-presidente Lula (PT), quando Rui falou do combinado. O acordo não foi cumprido e nós fomos cuidar da nossa vida, esta é a verdade”, explicou.
João Leão deve concorrer ao Senado como aliado de ACM Neto (UB) nestas eleições. No entanto, o vice-governador disse que apoiará Lula e que avisou para ACM Neto sobre sua predileção ao petista no pleito federal. Embora o PP tenha saído da base aliada, quatro prefeitos da legenda participaram, nesta quinta-feira, 15, de evento com o pré-candidato ao Governo do Estado pelo PT, Jerônimo Rodrigues.
2D com informações de A Tarde Online