Para a turma do ministro, Wagner errou feio ao escolher o representante do MDB, entre todos os nomes que se colocaram à disposição
A humilhante derrota do candidato do governo à Prefeitura de Salvador, no último domingo, aprofundou no PT a preocupação sobre a birra entre o senador Jaques Wagner e o ministro da Casa Civil, Rui Costa. Ou pelo menos entre aqueles que, no governo ou no partido, se colocam ao lado de um contra o outro. Para os segundos, ou os chamados ruisistas, o resultado vexatório para o governo da eleição na terceira capital do país deve ser, de fato, integralmente depositado na conta de Wagner, tese com a qual este articulista concorda. Por enquanto, a lavagem de roupa suja é feita internamente, mas as análises que predominam atingem em cheio o senador.
Para a turma do ministro, Wagner errou feio ao escolher o representante do MDB, entre todos os nomes que se colocaram à disposição para a disputa antes de a campanha de fato começar, incluindo um deputado petista que se supunha ligadíssimo a ele, por ter usado o fígado e não a cabeça. Por esta tese, o senador tinha apenas um propósito: inviabilizar o projeto de Rui de apresentar a candidatura do presidente da Conder, José Trindade, à sucessão municipal em Salvador. E teria agido assim por pura birra, pelo desejo de mostrar ao ministro quem, de fato, está no comando do partido, quem manda, quem dá as cartas.
Ainda segundo a mesma avaliação, Wagner age assim porque passou a ser politicamente mal assessorado. O time que escolheu para mais perto dele no PT e no governo e com o qual se imagina que pretenda promover a chamada renovação que defende tanto no partido não estaria à altura do estatura do senador nem reuniria a menor competência para receber sua delegação. No entanto, como atua como olhos e ouvidos dele na Bahia e parece contar com sua total confiança, exerce sobre o senador imensa influência, induzindo-o na maioria das vezes a erro. Isso, quando não o coloca como escudo para defender seus próprios interesses.
Um panorama sobre os problemas que o PT enfrentou nesta eleição, especialmente em municípios estratégicos nos quais alegados desejos de Wagner ou do grupo que o cerca acabaram em derrota para a legenda é o principal exemplo que a gente de Rui levanta para demonstrar que o senador não tem, de fato, os melhores conselheiros. Mas um fato anterior à sucessão de agora demonstraria, na visão do mesmo time do ministro, que Wagner tem também levado a pior nos enfrentamentos contra Rui. O exemplo é o da escolha da ex-primeira-dama, Aline Peixoto, ao cargo de conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM).
Wagner chegou a verbalizar publicamente que era contrário à indicação. Como a posição se converteu numa espécie de ataque à mulher do amigo, pensou-se até que os dois chegariam ao rompimento, o que, inteligentemente, evitaram. Aquele é apontado como o primeiro episódio de derrota de Wagner no embate contra Rui. O segundo seria este de agora, em que ele conseguiu preterir o candidato do correligionário, mas acabou com a broxa na mão. O artigo deveria, naturalmente, conter a versão do time do senador. Mas é quase impossível falar com algum de seus representantes, chamados de boçais, presunçosos e, claro, despreparados. Coitado do senador!
*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na Tribuna de hoje. Raul Monteiro*