Com justiça, a sabia unanimidade dos 13 vereadores da Câmara de Municipal de Ipiaú concedeu a ele a Comenda Altino Cosme de Cerqueira
O caçula dos seis filhos de Aurenita Matos (Dona Nita) e Manoel Sandes Lima (Seu Nezinho) logo cedo teve que pegar no batente. Aos 13 anos, em 1970, foi gerenciar a oficina mecânica de Milton Nunes de Almeida, o Miquifa.
"Eu era responsável por fornecer a equipe o material de trabalho e realizar os pagamentos",
recorda Carlos Alberto Matos, o Ral, que é de 8 de dezembro de 1957.
Mas Miquifa deu fim ao negócio de conserto de veículos automotores e partiu para o ramo de metalurgia. Sem problema, o caçula dos irmãos Zorilda, Samuel, Zé Carlos, Vera e Sônia foi requisitado para trabalhar em outra oficina, que existe até hoje: a oficina de Ademário. "Ademário irmão de Misca, a oficina dele era ali na antiga Cesta do Povo",
detalha a boa memória de Carlos Alberto Matos.
"Agradeço isso aos meus pais, que logo cedo me chamaram a responsabilidade e me direcionou para o trabalho. Era um tratamento bem acompanhado de perto"
, pontua.
Quem disse que a labuta na oficina evitou a sala de aula
Ral estudou na antiga escola José Lessa de Moraes. Passou pelo Ginásio Estadual de Ipiaú – GEI (hoje, Colégio) até chegar e diplomar-se no curso técnico em Contabilidade do Colégio Rio Novo, em 1973, aos 16 anos. "Trabalhava de dia, estudava a noite",
ressalta
Ele recorda, saudoso, de mestres que foram seus professores: "Aldo Trípodi, Carlito Borges, Milton Pinheiro, Vanda Santiago e Edvaldo Santiago (Tatai)"
, cita.
Tentou o vestibular para o curso de Agronomia da Universidade Federal da Bahia, mas não teve sucesso. Naqueles anos 70, ainda eram muito escassas as vagas no ensino superior e a briga para chegar a faculdade era de foice. Hoje, em cada esquina, tem uma faculdade pronta a emitir um diploma.
Mas, numa só tacada, foi aprovado em três concursos: do antigo Baneb – Banco do Estado da Bahia, da Embasa e da Ceplac. Foi logo chamado para Embasa, permanecendo apenas seis meses. Não titubeou em aceitar a convocação da Ceplac e por lá construir uma carreira de 42 anos no Serviço Público Federal, de onde está aposentado.
Futebol: zagueiro xerifão, que fungava no cangote do atacante
Ral é memória, personagem e testemunha de um glorioso momento do futebol ipiauense, quando era badalado e muito disputado o campeonato local de futebol. Participavam equipes como o Temão, Ipiaú, Independente, Bairro Novo, Vasco de Santinho…
De porte esguio, mas atlético, foi lateral direito no Independente – aos 15 anos – mas passou a zagueiro no Temão. Estilo xerifão, deste que marca por pressão e não da mole, joga a bola para o mato, quando o jogo é ou não é de campeonato. Mas sabia sair jogando.
Era 1973, ele tinha 16 anos.
Em 1977, ele foi convocado para a briosa seleção de Ipiaú, formando dupla de zaga com Pedrito. De sua época, ele cita nomes como Wilson Foia Pode, Kipar, Litinho, Dadá, Japonês, João Velho, Sapatão e Jorge Pato, considerado a grande estrela do time.
A folia e os eventos: o Bloco Funil
O tempo havia fechado no Bloco Carnavalesco Trem da Alegria. Desentendimentos entre sua diretória levou a ruptura e o consequente surgimento da brincadeira irreverente que veio a ser o mais importante e longevo empreendimento da história dos eventos artísticos e musicais em Ipiaú: o Bloco Funil.
Ral lembra do embrião do surgimento: "A gente se reunia muito na casa de seu Carlos Contador, com as filhas dele - Isabel - com Carlos Sande. Tinha Silvio e Sálvio, Paulo Potó e veio Arnaldo de Cesário. Nós montamos um grupo grande e colocamos o bloco na rua"
, recupera. Era o ano de 1978.
Mas ele lembra -e com gratidão – que o grupo foi dispersando, por circunstâncias da vida, e restou com ele Arnaldo Barreto, o Arnaldo de Cesário. "A gente foi perseverando",
pontua.
Para Ral, o Funil foi o grande estimulador das micaretas de Ipiaú. "Além dos desfiles da micareta, fazia festas anuais",
ressalta.
O Bloco tinha como marca registrada o funil de dois metros de altura e muita espessura, que desfilava na frente de trio elétrico, carregado num Jipe e cheio de batida de limão.
Avalia ele, o funil acabou por assumir uma função estratégica e era sempre incentivado pelo prefeito da vez. Ral cita Hildebrando Nunes Rezende, Miguel Coutinho, José Mota Fernandes, Ubirajara Costa e Deraldino Araújo. "A gente trazia para Ipiaú um pedacinho do carnaval de Salvador",
lembra.
“Era uma micareta forte que Ipiaú tinha. Nós trazíamos os principais trios elétricos de Salvador. Com o Funil, Ipiaú balançava a região. Ipiaú virava um centro de encontro enorme. E essas festas ficaram na saudade de todos.
Carlos Alberto Matos – Ral
FUNIL MIRIM:
👆🏼 : Gratuitamente para as crianças carentes da cidade desfilavam no Funil Mirim. Na imagem, as crianças da Casa do Menor estão conhecendo um trio elétrico, logo após o arrastão com bandas, cordeiros e seguranças
Hoje, ele conta que já foi várias vezes abordado por amigos e amigas, relembrando que seus casamentos surgiram de um namoro que teve origem no Bloco Funil.
Como uma das passagens mais marcantes do bloco, Ral destaca o socorro a Casa do Menor, que passava uma situação difícil, em função do fim do convênio com a Prefeitura de Ipiaú. "Eu sei que nós fizemos um evento e conseguimos arrecadar mais de meia tonelada de alimentos para casa do menor. Fizemos isso, depois de ouvir uma entrevista da então presidente, Susa Barreto, em que apelava por socorro para a Casa do Menor".
O capitulo solidariedade do Funil, revela Ral, ainda incluia a distribuição de cesta básicas para famílias carentes, durante o Natal; e a versão infantil do Bloco, que era formado por crianças da Casa do Menor.
O bloco cresceu, segundo ele, saiu com pouco mais de 100 pessoas, lá em 1978, para chegar a despontar na avenida com 3 mil animados foliões, no seu auge, com porte de grande bloco de Salvador. "Isso, promovendo eventos de rua e eventos fechados",
destaca.
“A sociedade de Ipiaú sempre ajudou, quando a gente saia para buscar um patrocínio. Todos os nossos eventos eram de grande porte. Quando despontava uma banda que estourou no Brasil todo, a gente ia buscar. Nós éramos ousados, por amor a Ipiaú. Tudo que surgia de novo, a gente colocava em Ipiaú
Carlos Alberto Matos – Ral
Com Ral, o Rio Novo Tênis Clube reabre as portas
Carlos Alberto Matos capitaneou um grupo de pessoas que fizeram, em 1988, brotar das cinzas o maior centro de cultura, entretenimento e lazer da história de Ipiaú: O RNTC – Rio Novo Tênis Clube.
"Eu, Nixon - que hoje é prefeito em Iaçu. Ciciliano Souza, Roger, Jorge Maynart, Renan Lopes, Xão de Ariston, Meira Protético, (Muquiado), entre outros",
recorda Ral, pedindo perdão pela falha da memória, se tiver esquecido o nome de alguém.
Ele conta que este grupo, que fez ele presidente, veio com a vontade de trabalhar e reabrir o Clube.
A primeira ação foi uma campanha para arrecadar fundos e recuperar a estrutura física do RNTC, que foi pintando e retelhado. "Fomos ousados, o evento musical de reabertura, trouxemos uma banda de Minas Gerais e reunimos no Clube as autoridades da cidade - como juiz, prefeito e delegado - os grandes profissionais liberais, grandes comerciantes com a gente mais humilde. Assim, oxigenamos o clube",
recorda.
Como ele próprio define, o clube atravessou um processo de reafirmação e consolidação. Além reativar os equipamentos de lazer – como a piscina e o boliche, que era o principal atrativo – Ral apostou num circuito de grandes eventos artísticos.
Eles aconteciam nos sábados a noite, no salão de festa. E, quando a chuva permitia, tinha uma versão de domingo a tarde, numa área externa do Clube.
E o Clube foi reconquistando seu brilho, com acontecimentos como um tradicional torneio de Futebol de Salão (Hoje, Futsal). "O Rotary passou a fazer sua reunião semanal no salão do Clube. As apurações das eleições também aconteciam lá",
relembra.
Estavam postas as condições que tiveram como consequência o mais glorioso período do RNTC – 1988 a 1997 – quando por lá Ral esteve presidente.
Coincidentemente, ou não, na era pós Ral o Clube ainda conseguiu sobreviver alguns anos. Mas acabou por se juntar ao Santa Paula e transformou-se apenas numa edificação abandonada e em elevado estágio de deterioração, contando com a insensibilidade, indiferença e cumplicidade do Poder Público Municipal.
Ral lamenta. "Se eu ganhasse na mega sena, reativaria o Clube".
Torcedor fervoroso: Escolinha do Flamengo e Flamengo Master
O futebol cuidou de contaminar Ral e ele se fez um incurável e fervoroso torcedor do Flamengo. E o espírito de liderança o levou a arregimentar uma sucessão de excursões com destino ao Estádio do Maracanã, no Rio Janeiro, para acompanhar o Flamengo em decisões de campeonatos.
Os buzus partiam lotados destes exemplares de torcedores ipiauenses e da região, apaixonados pelo rubro-negro carioca.
Essas excursões e incursões pela Gávea e o Ninho do Urubu fizeram de Ral personagem conhecido e reconhecido pela cartolada rubro-negra. E assim, ele conta: "quando Patrícia Amorim deixou o Flamengo em 2012 e Eduardo Bandeira assumiu, a base do Flamengo estava destroçada. E ele entrou com um projeto de fundar novas escolinhas do Flamengo, que só tinha 39 no Brasil"
Estavam fundadas as condições para o surgimento da Escolinha do Flamengo de Ipiaú, fundada por Ral junto com seu primogênito, Ramah Borges Matos.
Ele revela que, quando foi para Rio tentar trazer a escolinha para Ipiaú, só existiam três delas na Bahia: Em Ilhéus, Feira de Santa e Eunápolis, cidades de porte bem maior que o de Ipiaú.
Ral precisou fazer um estudo e mostrar a diretoria do Flamengo que era economicamente viável a escolinha em Ipiaú, por ser a cidade um polo regional, podendo atrair participantes dos municípios vizinhos.
Deu certo, passaporte carimbado. Em 2013, foi implantada a Escolinha Oficial do Flamengo em Ipiaú, que reuniu uma garotada de toda região. "Que participou de campeonatos e foi campeã inclusive, invicta, na categoria sub-17, em torneio estadual em Vitória da Conquista",
pontua. A escolinhas reunião participantes de 7 a 17 anos.
A Oficialização
Na época da escolinha do Flamengo, Ral ainda fez aterrissar em Ipiaú o Flamengo Master, com atletas do mais importante capitulo da história do Flamengo: A Era Zico. "Zico não veio por não estava no Japão",
lembra.
O evento foi exatamente para oficializar a chegada da Escolinha Oficial do Flamengo em Ipiaú.
A comenda Altino Cosme de Cerqueira
Não foi por acaso, portanto, que Ral foi homenageado pela Câmara de Vereadores de Ipiaú com a Comenda do Mérito da Cultura Manoel Pinto (Mapin).
Ele estava lá, nesta última sexta-feira (1/12), em sessão solene e festiva – acontecida na AABB – para receber a comenda das mãos do vereador San de Paulista (Solidariedade), autor da propositura.
Propositura que foi acolhida pela unanimidade dos 12 colegas de San. Como Cláudio Nascimento (PSD), que disse. "Muita acertada a escolha de Carlos Alberto Matos. É um cara que milita há muito na área do entretenimento e na área da cultura de Ipiaú, parabéns ao vereador pela escolha".
Assista ao vídeo e confira os registros dos vereadores sobre Ral.
Carlos Alberto Matos é de 8 de dezembro de 1957. Seu filho primogênito, Ramah Borges Matos, fruto do seu primeiro casamento, tem 36 anos é integra a Polícia Militar de Sergipe.
Do atual casamento, com Lee Silva Matos, ele tem a pequena Mel Silva Matos, de 10 anos. E aquele que herdou seu nome e a versão diminutiva do seu pseudônimo: Carlos Alberto Matos Filho, o Ralzinho, que cursa medicina na Universidade Pitágoras em Eunápolis.
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