Patrick Lopes entrega um deputado estadual a uma cidade de 10.470 habitantes

Um feito sob circunstâncias inéditas, ainda que Jitaúna tenha cravado o nome de Urbano 100 Contos como deputado nos anos 60

As 63 vagas de deputado estadual e as 39 vagas de deputado federal na Bahia são, historicamente, ocupadas por players que tem origem em praças eleitorais bem maiores, muito maiores do que uma cidade de 10.470 habitantes, que é a população do município de Jitaúna, conforme estimativa de 2021 do IBGE.

Geopoliticamente mais fortes, os grandes centros ocupam os mais importantes espaços de poder. Até Ipiaú, polo regional, não tem um deputado estadual residente na cidade. Como não tem Ubatã, Dário Meira, Itagibá, Ibirataia, Barra do Rocha, Aiquara, Itagi, citando municípios próximos a Jitaúna e de realidade similar.

Ciclicamente – e historicamente- os eleitores destas pequenas cidades elegem os candidatos das grandes cidades da Bahia. Patrick conseguiu ser uma exceção a regra.

O “origem” dito aqui não se confunde, necessariamente, com certidão de nascimento, se refere à área de atuação. Para o eleitor melhor entender, ilustram-se casos de outros deputados que angariam votos aqui por essas mesmas bandas do Sul e Sudoeste Bahia e que foram reconduzidos ao parlamento.

Eduardo Salles conquistou o primeiro mandato na ALBA depois de permanecer secretário de Estado da Agricultura por cinco anos. Niltinho (PP) foi secretário na Prefeitura de Madre de Deus e ingressou na vida pública através deste município da RMS – Região Metropolitana de Salvador. Os dois nasceram em Salvador.

Leur Lomanto Júnior  – a quem Patrick costuma emprestar seu apoio em Jitaúna – é neto de ex-governador e filho de ex-deputado e tem Jequié, cidade de 156.277 habitantes, como sua base principal. Nasceu em Salvador.

Zé Cocá, hoje prefeito de Jequié, esteve deputado estadual logo depois de ter sido duas vezes prefeito da cidade Lafaiete Coutinho, que tem apenas, 3.663 habitantes (IBGE, 2021).  

Mas cuidou, antes de ser candidato, de ser presidente do Consórcio de Desenvolvimento Sustentável do Vale do Jiquiriça e coordenador dos Consórcios da Bahia, por onde ele pavimentou o seu sucesso eleitoral. Zé Cocá nasceu em Itiruçu.

A estrela de Patrick Lopes brilhava muito localmente, quando ele começou a vislumbrar a candidatura. Seu poder de fogo estava circunscrito ao modesto colégio eleitoral do município de Jitaúna, em que pese à boa repercussão regional de seus feitos, enquanto prefeito.

O intento de ser deputado estadual, por isso, suspeitou-se ser um blefe midiático e não propriamente um projeto político, a princípio. Quando candidatura se consumou real, pareceu ser algo impensado e, no mínimo, precipitado.

Precipitado porque abdicou de quase três anos de seu segundo mandato de prefeito, renunciando ao cargo em abril deste ano, por força da legislação eleitoral. O natural seria fechar o ciclo e deixar, planejadamente, para as eleições 2026 a ambição de ser deputado estadual.

Iniciada a corrida eleitoral, posta em campo a luta pelo voto, o ex-prefeito de Jitaúna não frequentou a bolsa de apostas dos candidatos ditos favoritos ou com alguma chance de vitória.

Mas foi consumada a façanha da vitória, a conquista que resultou dos 35.607 votos angariados.

O deputado estadual eleito Patrick Gilberto Rodrigues Lopes, aos 40 anos, elevou a sua estrela a um outro patamar e, agora, levou os descrentes a entenderem que ele sabia muito bem o que estava fazendo.

Mostrou ser estrategista, quando muito bem soube trabalhar em seu favor as regras das eleições proporcionais, como é chamado o modo disputa das eleições parlamentares.

Deixou o PP e abrigou-se no AVANTE. Segundo ele, uma orientação do governador Rui Costa (PT), para pegar carona nos votos do correligionário Tancredo Isidoro, posto como puxador de votos do partido, enquanto filho do deputado federal Pastor Sargento Isidoro, o mais votado nas eleições de 2018, com 323.264 votos.

Pelo AVANTE, a projeção é que não havia risco do partido não alcançar o quociente eleitoral e Patrick e poderia ser eleito como uma margem de votos bem menor do que seus concorrentes das grandes cidades. Acertou.

Mas nestas eleições de 2022 a família Isidoro teve um desempenho modesto. O pai despencou para 77.164, caindo de primeiro para a 37ª posição entre os 39 deputados federais eleitos.

Tancredo Isodoro obteve 30.610, foi o segundo colocado da sigla, que conquistou apenas uma vaga de deputado estadual, que ficou para Patrick, o mais votado de seu partido.

Em 2018, o irmão de Tancredo, João Isidoro, foi mais o votado no Estado com 110.540 votos. Ele morreu aos 29 anos, em novembro do ano passado, vítima de afogamento em uma praia de Madre de Deus.

Na sua Jitaúna, Patrick obteve 5.605 votos – o equivalente a 62,16% dos votos válidos para deputado estadual. Para somar os 35.607 votos, conseguiu arregimentar bons apoios regionais.

Foi o mais votado, por exemplo, em Ubatã, onde buscou 2.440 votos, contando com o apoio do prefeito Tinho do Vale (PSB). Ainda alcançou um primeiro lugar de Teolândia, com 3.655 votos.

Trouxe de Ipiaú um terceiro lugar, com 2.130 votos, com setores ligados a prefeita Maria das Graças Mendonça (PP) se somando a sua candidatura.

Ainda ficou no topo no município de Lafaiete Coutinho, obtendo 1.221 votos. Ficando a frente, inclusive, do candidato apoiado por Zé Cocá, Hassan de Zé Cocá, que ficou em segundo com 734 votos. Figurou em primeiro também em Nova Itarana, Itagi e Irajuba.

É indiscutível o extraordinário feito de Patrick Lopes. Jitaúna, a região, quem nele acreditou e quem nele não acreditou tem que saudá-lo. E, adiante, quando do exercício de mandato de estadual na Assembleia Legislativa da Bahia, cobrar mais desenvolvimento para a Região Sul Cacaueira.

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