Em Ipiaú, partido alterna entre o vexame e o patético. A Redação da 2D tentou ouvir o deputado federal Paulo Azi, presidente estadual do partido. Além do deputado estadual Sandro Régis, de quem Plínio é assessor parlamentar, mas teve a indiferença como resposta.
No princípio de junho deste ano, por ato involuntário do vereador de Ipiaú, Milton Costa Cruz – o Picolé (DEM) – vazou e viralizou pelas redes sociais áudio de um diálogo entre ele e o seu correligionário, Plínio Neri Lemos, presidente do Diretório Municipal do Partido Democratas.
O conteúdo do áudio levou a promotora de Justiça, Alícia Violeta Botelho Sgadari Passeggi, do Ministério Público da Bahia a instaurar: “procedimento preparatório para inquérito civil”, que diz: “OBJETO DO PROCEDIMENTO: Apurar possíveis condutas ilícitas de servidores e membros do poder legislativo de Ipiaú/BA relacionadas ao pagamento /exigência de vantagens indevidas para a nomeação de agentes públicos no âmbito Câmara de Vereadores de Ipiaú/BA”,
diz o termo do MP.
E diz ainda o Ministério Público, sobre quem está sendo investigado: ENVOLVIDOS: Plinio Nery Lemos, Milton Costa Cruz, Robson Fernando da Silva Moreira, Ivonilton Conceição de Oliveira, Andreia Novaes, Francisco Xavier, conhecido como São Jorge,
Cláudio Nascimento e Jamile.
Sobre este tema, essa Redação havia entendido como que feito a sua parte, aqui no ambiente editorial. Agora, o fórum são as instâncias do Estado. Ministério Público, para investigar. E o poder judiciário, para julgar se procede o que disseram Plínio e Picolé.
Mas os vereadores Robson Moreira (PP), Cláudio Nascimento (PSD), Andreia Novaes (PP) e o ex-vereador São Jorge (esposo de Andréa)
foram a Delegacia Territorial de Ipiaú e lavraram boletim de ocorrência, formulando a preliminar de uma queixa-crime contra essa Redação.
Em consequência, essa semana chegaram as intimações para o interrogatório inicial. Fato que estimula este site a desenterrar editorialmente o episódio.
Agora, para promover uma espécie “denunciação da lide”, do ponto de vista editorial. Para trazer o Plínio, Picolé e o Partido Democratas ao centro da questão, como reais protagonistas e provocadores de tudo.
Denunciação da Lide é um termo do meio jurídico. Corresponde a um tipo de intervenção de terceiro, na qual vai se incluir uma nova ação, subsidiária a ação já existente. Essa intervenção de terceiro é provocada pelo autor ou réu (denunciante) de ação inicial. Ele irá chamar um terceiro (denunciado) para integrar o processo. Aqui, a 2D usa-a de forma figurativa, faz uma equivalência.
É que o dado mais curioso, ou minimamente estranho, é que fora do boletim policial estão exatamente Plínio e Picolé, os virtuais e digitais formuladores, ainda que involuntariamente, das denuncias que pesam sobre os membros do Poder Legislativo Municipal.
Mas essa, como costuma dizer o grito das redes sociais, é a história do poste que mija no cachorro. Abordaremos na segunda etapa, em outra matéria
, desta nova rodada de cobertura sobre a prosa de Plínio e Picolé.
Agora, a pauta é sobre a patética secção ipiauense da legenda Partido Democratas, que destoa, diametralmente, com a história de um partido tão tradicional.
Vamos começar pelos trechos de maior impacto, do teor do diálogo PP: Plínio/Picolé.
Picolé
“Saí com Robson hoje, fui na fazenda dele. Ai, não. Essa aí, Picolé, foi uma promessa que eu fiz para Ivonilton. Eu tive de arrumar para ele. E nosso compromisso, nada. Tú tá vendo ai. Eu tô sendo muito pressionado, vei”.
Picolé
“Saí com Robson hoje, fui na fazenda dele. Ai, não. Essa aí, Picolé, foi uma promessa que eu fiz para Ivonilton. Eu tive de arrumar para ele. E nosso compromisso, nada. Tú tá vendo ai. Eu tô sendo muito pressionado, vei”.Eu tô pensando pra porra o que eu vou fazer da vida. Não, dia 30, eu já vou registrar a menina lá. Dia 30, ela vai estrear lá. E, eu vou dá um salário de R$ 2.200 pra vc. Você dá R$ 1.000 a ele e fica com R$ 1.200. Eu digo não, vou dividir no meio: R$ 1.100 e R$ 1.100 para gastar tirando tinta, arrumando uma coisa e outra, em pró da campanha mesmo”
Picolé
“Ai, eu vou até conversar com Jamile direito. Dizer que um a um que ele vai receber. Eu não vou nem conversar agora com ela. Na hora que ela tiver perto de receber, eu digo ó. Você vai trabaiar meio turno. Você vai ter uma tranquilidade comigo. E trabaiar, meu fi, comigo na Câmara, é moleza demais”
Plínio
“Conversei muito com São Jorge, ontem. São Jorge é um cara retado. Ele vai atrás das coisas dele mesmo. Ele recebe o dinheirinho dele todo mês, certo. Vendi um celular a ele, ele falou que no dia 10 me paga. O dinheiro que ele recebe todo dia 10 lá”
Picolé
“Ele recebe dinheiro, porra. Andreia tem cinco cargos”
Plínio
“Ele não é vereador não, e está recebendo este dinheiro todo mês, R$ 2.200”
Picolé
“Mas ele recebe por causa de Andreia, porra”
Plínio
“Eu sei, é isso que eu estou falando. Ele tá recebendo. E ele quer mais, porra. Ele né besta, não. Ele tá certo, sabe por quê?”
Plínio
“Flávia tá comendo, boy tá comendo, todo mundo comendo ai, Vicente. E a gente fica como besta ai, tudo é doido”
Sandro Régis e Paulo Azi
Essa Redação dirigiu questionamentos a figurões estaduais do partido, para conhecer o posicionamento oficial da direção estadual do DEM, sobre a pendenga que envolve os seus dois correligionários. Sobre essas declarações constantes no áudio.
O deputado federal Paulo Azi, presidente do Diretório Estadual, não respondeu aos questionamentos, enviados por mensagens de texto, via aplicativo whatsapp.
Para ouvir o deputado estadual Sandro Régis, líder do partido na Assembleia Legislativa da Bahia – Alba – foi tentando manter contato através de sua assessoria parlamentar. Inicialmente, o cicerone Alisson Pinheiro disse ainda não ter encontrado pessoalmente com o deputado e reclamou não ter conseguido abrir o áudio. Foi providenciado outro. Mas, desta feita, se quer deu como lida a mensagem.
Com a indiferença e desprezo com que foi tratado este site pelos dois parlamentares, há que se ter compreensão, não é a modesta 2D, veículo de inserção microrregional, membro da constelação dos grandes órgãos da imprensa baiana. Fosse um destes, os dois políticos apressavam-se em ajoelhar-se.
Mas causa perplexidade, no mínimo, a desdém da dupla com Ipiaú e a opinião pública regional. Sobretudo, o deputado estadual Sandro Régis, que, por essas bandas, costuma angariar votos. E, como proprietário de terras na região, costuma vir por aqui contar suas arrobas de cacau e aproveita para fazer algo de política.
Contra Sandro Régis, há o agravante que Plínio Neri está lotado em seu gabinete, também como assessor parlamentar. Embora esteja Plínio preocupado, de fato, com a vida financeira do ex-vereador São Jorge, como ele revela nos áudios.
Francisco Xavier, nome de batismo de São Jorge, é ex-vereador e esposo da atual vereadora Andreia Novaes, que é do PP, partido da base do governador Rui Costa. E o assessor parlamentar do líder da oposição na ALBA, deputado estadual Sandro Régis, presta uma espécie de assessoramento informal a São Jorge.
Não se pretende que faça a direção do Partido uma precipitação de juízo sobre o episódio e os seus membros. O juízo final será determinado pelos desdobramentos das investigações em curso no Ministério Público. Mas o posicionamento público é irrenunciável.
A postura do staff do DEM com Ipiaú pode explicar a tragédia que é a recente história do partido na cidade.
Aliás, ela contrasta enormemente com o que foi capaz de fazer o brilho pessoal de ACM Neto, presidente nacional do partido, que cacifou a legenda a sonhar com o retorno ao Palácio de Ondina.
Nas eleições de 2020, o partido até caiu em número de prefeituras administradas, de 38 para 37, ficando em terceiro no ranking. Por outro lado, quando o critério é a população administrada, que soma as populações dos municípios em que o partido venceu as eleições, o Democratas fica no topo do ranking, com 30,44%.
Mas com a morte do prefeito Herzem Gusmão em Vitória da Conquista, que era do MDB, assumiu a vice Sheila Lemos, que é do DEM. Assim, a legenda chegou a 34% de população administrada, com 38 municípios.
Foi favorecido pela terceira vitória consecutiva em Salvador, cidade que tem, com folga, a maior população entre os municípios do Estado da Bahia.
O DEM patético de Ipiaú
No plano estadual, o Partido Democratas da Bahia tem o filiado que é presidente nacional do partido, ACM Neto, que se potencializou para polarizar as eleições estaduais de 2022, com os três consecutivos sucessos eleitorais em Salvador.
ACM Neto elegeu-se prefeito da capital em 2012. Reelegeu-se com folga em 2016 e, da mesma forma, colocou Bruno Reis, seu vice, para sentar na cadeira de prefeito, em 2020.
Em Ipiaú, por outro lado, o partido alterna entre o vexame e a piada, transformou-se numa máquina trituradora de carreiras políticas.
Em 2016, pela legenda, o ex-deputado estadual Cleraldo Andrade veio de Salvador, para tentar retirar do jazigo sua carreira política sepultada há três décadas, à época. Tentou ressuscitar-se disputando a cadeira de prefeito de Ipiaú.
Obteve 9.342 votos, 42,21% dos votos válidos. Contra 12.970 votos (57,79%) de sua oponente, a atual prefeita Maria das Graças Mendonça (PP), que elegeu-se em 2016 para o seu primeiro mandato.
Cleraldo, hoje, está exatamente filiado ao PP de Maria, como um anônimo figurante.
Em 2020, o partido trouxe para os seus quadros o ex-prefeito Deraldino Araújo (2008 -2016), que vinha de quatro anos de apática hibernação política. Ele trancafiou-se no anonimato e cruzou os braços, desde que encerrou o segundo mandato de prefeito. Julgava-se detentor de um patrimônio inabalável de votos.
Mas não foi bem assim. O médico-pediatra teve um desempenho vexatório na sua tentativa de chegar ao terceiro mandato. Alcançou 2.182 votos (9,59%), posicionando-se na periferia da disputa, com um terceiro lugar.
Hoje, dizem as fontes, que o médico não faz cara de bom amigo, quando lhe falam de política. Politicamente, mais que a hibernação, agora optou pelo jazigo perpétuo.
Mas daquelas eleições do ano passado, o pífio Partido Democratas de Ipiaú ainda logrou eleger três vereadores. San de Paulista, Edson Marques e Picolé.
Mas Picolé integra, hoje, a base parlamentar de 10 vereadores da prefeita Maria das Graças Mendonça (PP). Livre, leve e solto, embora o mandato parlamentar pertença à legenda e não a quem senta na cadeira.
2D