Quarta-feira, Dezembro 25, 2024
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“Morte em ponte sem manutenção é outra modalidade de homicídio”, escreve Josias de Souza, do Portal UOL

“O ministro Renan Filho corre para contratar por até R$ 150 milhões a reconstrução da ponte que a pasta dos Transportes se absteve de restaurar por R$ 13 milhões. A inépcia custou caro aos dois mortos e 15 desaparecidos da tragédia da ponte JK”, ainda escreve o jornalista sobre a tragédia

A queda de parte da ponte JK, na divisa entre Tocantins e Maranhão, é um desses acontecimentos que ferem a rotina como uma lâmina fria e fazem a vida escapar do controle. É como se o mundo balançasse, desabasse e tudo saísse do lugar.

No Brasil, naturaliza-se a morte inatural com extraordinária naturalidade. Morre-se de racismo, de homofobia, de feminicídio, de violência policial, do diabo. De repente, o brasileiro é informado de que também pode morrer de ponte.

Descontadas as estruturas estaduais e municipais, há no país 5.827 pontes federais. A notícia de que 727 delas estão com a manutenção em estágio ruim ou crítico é uma ameaça de morte.

O ministro Renan Filho corre para contratar por até R$ 150 milhões a reconstrução da ponte que a pasta dos Transportes se absteve de restaurar por R$ 13 milhões. A inépcia custou caro aos dois mortos e 15 desaparecidos da tragédia da ponte JK.

Está claro que todo brasileiro tem onde cair morto, inclusive nas águas do rio Tocantins. Não há, por enquanto, notícia sobre um plano para reformar as outras 726 pontes precárias antes da ruína fatal.

No Brasil, a morte é anterior a si mesma. Começa muito antes. É todo um lento processo de laudos ignorados, despachos protelados e decisões não tomadas. Cabe perguntar: Quem pode ser o próximo a morrer de ponte no Brasil?

A expetativa é tétrica. Por enquanto, o próximo morto é apenas uma suposição, um fantasma precoce do que ainda não existe. Mas ele toma forma. Pode estar trafegando sobre uma ponte qualquer nesse instante sem saber que corre o risco de virar defunto.

Até esse momento, o próximo morto escapou. Mas, do jeito que é tratada a manutenção da infraestrutura brasileira, tudo indica que ele está condenado. A morte de ponte tornou-se uma outra modalidade de homicídio no Brasil.

Texto originariamente publicado na Coluna de Josias de Souza no Portal UOL

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