"Colbert Martins, de Feira de Santana, não vai seguir o partido", acredita o editor do Portal Política Livre
Do ponto de vista eleitoral, a adesão do MDB à candidatura do PT ao governo da Bahia, formalizada ontem, depois de semanas de negociação, não deve surtir maior impacto. Os dois prefeitos mais importantes da legenda no Estado, um dos quais Colbert Martins, de Feira de Santana, sequer devem segui-la no apoio ao candidato a governador petista Jerônimo Rodrigues, de quem o vereador emedebista Geraldo Jr., presidente da Câmara Municipal de Salvador, foi oficializado como vice, em ato que reuniu os dirigentes das duas legendas e mais os senadores governistas Jaques Wagner (PT) e Otto Alencar (PSD).
Diferentemente do PP, que fez o caminho inverso ao aderir ao candidato a governador ACM Neto, do DEM, há quase três semanas, os petistas recebem um MDB esvaziado de quadros e lideranças, sobretudo no interior, em virtude da sucessão de ocorrências de que seus principais dirigentes foram alvo nos últimos anos, o que torna, na prática, o tempo de TV que a sigla agregará à coligação petista talvez seu maior trunfo e benefício à nova aliança. Não se pode desconsiderar, no entanto, o grande choque político que o anúncio e a formalização da aliança causou.
A bem da verdade, o afastamento do MDB parecia já ter sido precificado pela articulação netista. Era pelo menos o que sugeria o ritmo lento que os operadores do candidato a governador do DEM vinham imprimindo às negociações com a sigla, dando a entender que a contrapartida exigida pelo partido para o apoio a Neto era exagerada ou que, na prática, não precisava ser grande o esforço por sua manutenção na base. A medida do crescimento à desimportância da agremiação pode ser melhor observada com a chegada do próprio PP à campanha do DEM, que subverteu a ordem de prioridades até então no grupo.
Se a consequência que se viu ontem, portanto, era, de alguma forma, esperada, não se pode dizer o mesmo da partida, ainda mais para a importante posição de vice do adversário petista, de Geraldo Jr., transformado da noite para o dia igualmente em oponente, mesmo porque ao grupo, segundo comentários, ele não havia dado sinal de insatisfação nem de que acompanharia seu partido na direção do concorrente. Eleito com pouco mais de 12 mil votos em Salvador na sucessão municipal passada, o vereador praticamente ratifica a pouca expressão do aporte eleitoral do MDB ao grupo governista.
O problema é o que sua condição de presidente da Câmara, de que não precisará abdicar para disputar a vice, pode provocar de estrago na gestão do prefeito Bruno Reis (DEM), principal sustentáculo da candidatura netista, razão para a sua preferênca na escolha pelo PT. Não é de hoje que o vereador exerce uma curiosa ascendência sobre os colegas que os leva a votar e fazer tudo o que ele quer, quase sempre à unanimidade, como mostrou, na terça-feira, a aprovação de sua reeleição para o comando da Casa com um ano de antecedência. Desestabilizar Neto alvejando Bruno é a maior aposta que os petistas fazem para o seu desempenho a partir de agora.
*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna